Carta aberta para a minha mãe


Mãe, no momento em que você se foi eu comecei a me sentir sozinha e desprotegida. Eu não me preparei para dizer adeus. Na verdade, na minha cabeça, a nossa despedida nunca iria acontecer.

Você se lembra do dia em que eu e o Liam fomos visitar você no hospital? Viajamos por algumas horas, chegamos tarde e eu estava com receio de como seriamos recebidos por sua família. No segundo dia de visita ao hospital eu cheguei chorando e doeu muito não poder compartilhar com você o motivo. Não queria, e não podia, contar os problemas de fora para você. O foco era o seu bem-estar.

No dia que recebi a ligação da sua irmã, até então minha tia preferida, eu senti que não era algo bom. Eu já estava esperando o pior, mas eu não queria acreditar. Você havia falecido e nós não estávamos lá. Não foi possível ficar. Eu precisava proteger o Liam de toda a maldade da sua irmã contra ele. E que ser repugnante. Fazer maldade contra uma pequena criança de três anos é completamente ridículo.

A cena mais impactante foi ver você deitada no caixão. Você estava dura e gelada. Foi assustador! Mas você estava tão linda e transparecendo tanta paz. O pior de tudo foram os olhares das pessoas da sua família. Não de todos, é claro, mas daquelas pessoas que você sempre soube que eu não gostava. 
O bom foi ver que muitas pessoas foram se despedir. Você era alguém muito querida e brilhante. Ganhou o coração de várias pessoas no decorrer da vida. 

Outro dia eu estava lembrando das coisas boas. Lembra quando eu era criança e frequentávamos aquela feirinha que tinha perto da lagoa? Eu amava comer churros. Sempre comia mais de um. Lembrei de umas das vezes que eu estava usando um vestido amarelo e caiu calda de chocolate nele. Senti muita vontade de alguns churros de chocolate no momento da lembrança.

Lembrei também de alguns flashs da nossa viagem para o Beto Carrero World, Bahia, férias no Rio (na minha amada praia de Ipanema), das manhãs que você me levava para a escola (e sempre buscava), os momentos durante o almoço, as risadas, as brigas, do quanto eu era mimada (sempre tive tudo quando , quanto e como queria), das minhas festas de aniversário e das noites de jogatina de buraco (que era quando eu aproveitava para passar mais tempo no computador). São tantos momentos bons para serem lembrados. 

Nós sempre tivemos nossas diferenças e brigas, mas eu nunca imaginei que sentiria a sua falta. Alguns dias sinto falta de você me ligando querendo saber o que estou fazendo ou em qual lugar estou. O engraçado é eu sempre ter pensado que essas coisas não deixariam saudade. Por muito tempo o Liam olhava para o céu a procura da estrelinha mais brilhante (assim que chamamos você), mas agora ele fala cada vez menos na vovó Memê. 

Sei que você está bem, em paz e talvez com saudade. Não te vi e nem senti sua presença por perto desde a sua partida, mas quero que saiba que sentimos sua falta. 

Com amor, Mari e Liam.

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